Em meus lábios a palavra se parte.
Quebra-se, refaz-se.
Em meus lábios a palavra é arte,
Arte torta e mal feita
Que mostra, quando grossa
Que ainda não é tempo de colheita.
Mas eis que às vezes, só às vezes
Ela soa mais delicada
E, com a ternura de quem é amada
De sonho em sonho vira pensamento.
Palavras são vôos em dias nublados
E toda palavra é um acontecimento
Que semeado como que por invento,
Parte do pessoal para o infinito
Evoca espíritos, desperta desejos,
Move o mundo em mil direções.
Minhas palavras são pequeninos...
Pequeninos pedaços de tudo que há,
Como minúsculos flocos de neve
Que caem na brancura da totalidade,
Perdem-se na noite da cidade,
E só o que resta é o frio silêncio.
E minhas rimas são rimas obscuras,
Confusas, perdidas, afogadas
Colocadas entre uma ausência e outra
De uma sofrida pobreza rouca
Justificada apenas pelo sentimento,
Que escolhe as palavras sem outro intento